Quando me perguntam o que faço, procuro explicar o que é gestão executiva, gestão ativa, gestão de intervenção, enfim, “meter as mãos na massa”.
Ainda assim, há muitas pessoas que ficam na dúvida se entenderam bem e, nessas alturas, socorro-me da comparação com a medicina:
– sou “médico de empresas” e pertenço a uma equipa clínica.
Ao longo do tempo esta analogia tem-me inspirado e sobre ela assento muitas reflexões e atitudes. As coisas parecem bater certo.
Explico, no essencial, o que me parece lógico.
A relação.
A relação é muito natural entre as pessoas e os médicos. Não há tabus. Se há que ir ao médico, vai-se. Aliás, deve-se ir ao médico por prevenção e não somente quando se está doente. O facto de haverem médicos é porque existe saúde para cuidar. Existem assuntos e preocupações. Aí está algo a enraizar-se – o facto de se ir ao médico não quer dizer que exista doença. Há médicos para tratar os doentes e existem pessoas que não querem ficar doentes. É uma relação com início na pessoa mas com motivações diferentes. Ou porque se está doente ou porque não se quer estar doente. Em qualquer dos casos, procurar um profissional deve ser o impulso.
Na gestão é igual. As empresas existem, têm saúde económica e financeira, por vezes débil, e devem procurar os profissionais de gestão para que tudo funcione com normalidade.
O conhecimento.
Por outro lado, existirem pessoas que estudam para serem médicos e isso significa que há um conhecimento específico a ser assimilado. Um conhecimento que precisa de anos para se enraizar e que vai evoluindo de ano para ano. Cada vez mais, a medicina está com novos conceitos e métodos pelo que a intensidade da aprendizagem continua elevada. Não é um curso ou uma especialidade profissional que tende a ver o seu conhecimento vulgarizado porque, claro, as doenças, maleitas e sofrimentos estão bem latentes na sociedade e…não só são imprevisíveis como surgem novas realidades.
Na gestão é igual. As empresas têm quem saiba vender, quem saiba produzir, quem saiba de marketing, quem saiba de finanças mas, enquanto empresa necessita de integração para que tudo funcione com normalidade.
Pois é, mas nem por isso as coisas sucedem como deviam.
Ainda assim, apesar de haver uma relação próxima e natural entre médicos e as pessoas em geral e, apesar de haver pessoas que estudam anos para servir a medicina, a verdade é que há muitas pessoas que, não só não recorrem aos médicos como se automedicam. Mais grave ainda, há muitas pessoas que vão ao médico, gastam o dinheiro, ouvem as orientações e depois não fazem o que o médico disse.
Na gestão das empresas não é diferente e por isso sinto-me como um médico (neste caso de empresas), mesmo quando não sucede o que espero.
É a vida!
Nota: aproveito este texto para fazer um tributo aos médicos, pessoas que decidiram estudar anos a fio para o ser e que, uma vez médicos, não param de se formar para se manterem preparados para servir… outras pessoas.
José Miguel Marques Mendes
CEO