Por mais que inventem máquinas e desenvolvam sistemas operativos, tudo gira em torno das pessoas. Venham robots, androides ou humanoides que nada mudará a influência do ser humano.
Nesta lógica, há uma coisa que deveríamos ter sempre, sempre presente – o desenvolvimento das pessoas.

A relação entre as pessoas tem de estar mais desenvolvida. Diria mais, tem de estar em desenvolvimento contínuo. E desenvolvimento não é camaradagem, estar socialmente bem, ter um bom networking, saber falar em público. Tudo isso é normal, é trivial.
Afinal estamos no século XXI!

Estou a falar de valores. Valores de ética, de caráter, de compromisso, de fazer acontecer e de deixar fazer.
Explico.
As organizações empresariais não vivem sozinhas. Precisam de colaboradores, clientes, fornecedores, financiadores, servem o Estado e a sociedade.
Em todas estas organizações que circundam uma empresa existem pessoas. Pessoas que têm igualmente missões e desafios. Tudo funciona numa enorme rede de interesses, intenções, preocupações e missões.
Está tudo interligado mas, desafortunadamente, em regime de salve-se quem puder.

Quando uma organização precisa de dar um passo ou tem a necessidade de caminhar num determinado sentido, se isso implica o alinhamento com terceiros, então temos “o caldo entornado”.
Começam os gestores, diretores, administradores, ou seja quem for, a olhar para o umbigo, a pensar na sua própria quinta, a medricar ou até mesmo a acagaçar. Não decidem, empurram com a barriga ou fazem de morto. Alguns, mais atrevidos, dizem não porque o não é manter tudo na mesma. Porque acham que a mudança é que lhes pode trazer chatices, dizem não. E pronto…, disseram não.

Há dias, aquando de um caso (de um) profissional cuja situação estava “financeiramente vital” e precisava de ajuda, intercedi junto de outra pessoa e ouvi a resposta – não posso fazer nada.
Lá estava o NÃO. Fiquei pasmado!
Como é possível dizer, a alguém que está necessitado, não posso fazer nada?
É impossível! Hoje em dia não há nada que não se possa fazer. É só querer.

Estamos no século XXI e se há coisa que aprendi é que há muita coisa a fazer pelo desenvolvimento das relações.
Aprendi que devemos ser éticos para nos tornarmos confiáveis.
Que devemos assumir compromissos em ajudar e dar segurança.
Que devemos ter caráter porque isso estimula o bom pensamento.
Que devemos fazer acontecer e deixar que outros façam.

Portugal está a ficar atrofiado. O mundo está a ficar paranoico. Todos os dias vemos notícias e não sabemos se são verdade ou mentira. Todos os dias vemos denúncias sobre pessoas que estimamos e temos em boa conta. Vamos a ver, não era nada. Todos os dias há notícias só porque é preciso ter notícias.
Todos os dias nos queimamos uns aos outros e, nas costas dos outros vejo as minhas.

Há dias ouvi uma expressão muito curiosa – já não chega o “quem não deve não teme” pois, “quem não deve também tem que temer”.
É este clima social que vem colocar as relações entre as pessoas e as empresas em níveis de precariedade fulminante para o desenvolvimento da humanidade.

Estou morto de ceticismo. Que Deus me dê força para que nunca tenha a tentação de olhar para o (meu) umbigo… em primeiro lugar.

José Miguel Marques Mendes
CEO