Ora aqui está uma coisa que parece óbvia e desinteressante mas que tem muito que se lhe diga. Até parece fácil mas, no dia-a-dia de uma empresa, não distinguir umas coisas das outras pode ser fatal.
Aliás, eu acho que esta não definição (tudo ao monte e Fé em Deus) está a dar cabo de muitas PMEs em Portugal.
Ninguém se preocupa, não só na interiorização destes conceitos como na sua aplicabilidade.
Vamos a eles!
Negócio – é o que está dentro de uma empresa. Podem ser serviços ou produtos e é o que faz a empresa existir. É a atividade core e deve dar lucro. Portanto, é bom que uma empresa perceba se tem rentabilidade com o seu negócio, independentemente de todos os outros fatores. Aprecia-se esta rentabilidade retirando todos os fatores não diretos, como administrativos, contabilidade, outros custos indiretos e despesas de gestão como carros, almoços e outras coisas similares. O negócio, tal e qual ele é concebido, tem de ter uma determinada rentabilidade. Há empresas que não sabem se o seu negócio “ainda mexe” porque tal é a confusão de custos, contas e organização que a única coisa que sabem é que… o dinheiro falta.
Empresa – é a plataforma onde assenta o negócio. Se o negócio é rentável e tem mercado, então há que lhe dar um “chassi como se o negócio fosse o motor”.
A empresa é um organigrama, são chefias, são métodos de reuniões e decisões, são custos de backoffice, são financiamentos e controlo de gestão. É tudo o que é preciso para que o negócio role e debite todo o seu potencial. Por vezes exagera-se na plataforma e constrói-se um “chassi demasiado forte e caro para o motor”, ou seja, o que o negócio liberta não sustenta a organização da empresa.
Empresários – são os que detêm a empresa. Tenha uma percentagem maioritária ou minoritária, são os detentores da empresa. Chamem-lhe sócios, acionistas, investidores ou outra coisa qualquer: são os empresários. É assim e ponto final. Podem não ser os gestores da empresa nem ter qualquer relação diária com ela. São os proprietários.
Aliás, há empresários que têm a mania que sabem gerir e dão cabo da empresa. Tornaram-se empresários por várias razões, uns porque tiveram iniciativa “en su dia”, outros porque herdaram e outros porque compraram participações numa empresa.
Deveriam ser apenas e tão só… empresários.
Gestores – são os que gerem a empresa no seu quotidiano. Podem ter propriedade ou serem apenas profissionais. Esta função faz toda a diferença porque existem profissionais da gestão. As nossas universidades e escolas de gestão estão a formar centenas de gestores de empresas todos os anos e só não têm liberdade de atuação nas empresas porque muitos dos empresários se acham gestores… só porque são empresários. Mandam e não delegam. Não deixam que o profissionalismo da gestão “pilote o carro”.
Uma loucura!
Empreendedores – são os que fazem o negócio crescer. São os que promovem iniciativas dentro e para a empresa. Empreendedor não é uma função, é uma característica, um estilo.
Portanto, quer o gestor, quer o empresário ou qualquer outra pessoa que faça parte da empresa, pode ter um “fator empreendedor”.
Eu, aliás, acho que toda a gente tem algo de empreendedor e isso revela-se na forma como atua perante a rotina do quotidiano.
A grande questão é encontrar o equilíbrio entre empreender (que normalmente aumenta a entropia) com o gerir (que significa estabilidade).
Pois bem. Aqui ficam alguns conceitos que podem ajudar a reflexões empresariais.
Nota – e por falar em reflexões empresariais: Será que as empresas discutem a estratégia a seguir com os seus colaboradores ou é o patrão que decide tudo?
Eu disse patrão?
Mas não defini o que era patrão. Será que existe a figura do patrão, ainda hoje?
José Miguel Marques Mendes
CEO