Consideremos uma empresa em que a sua dívida financeira aumenta todos os anos, independentemente das razões que, em muitos casos até serão compreensíveis. Aumento de divida é aumento de encargos financeiros, compromissos futuros.
Independentemente do que suceda, aumento de dívida é aumento de custos a pagar.
Mas essa mesma empresa tem também a sua produção a aumentar todos os anos. O mercado compra e felizmente as vendas também aumentam todos os anos. As coisas até correm bem e com os resultados dessas vendas, todos os anos pagam-se os encargos financeiros que, note-se, têm estado a aumentar.
E ainda uma curiosidade animadora. Os gestores da empresa dividem a dívida pelas vendas e dizem que a relação está a baixar. A dívida sobe, sim, mas como as vendas também sobem, ficam felizes porque o rácio está a diminuir.
A dívida não diminui mas o rácio sim.
Ora, acontece que o rácio é um rácio e não é um valor absoluto, e que os compromissos de uma empresa com o mundo exterior, clientes, fornecedores, pessoas e banca, fazem-se com números absolutos e não relativos.
Para além disso, as vendas e os resultados têm uma realidade anual e os compromissos com a dívida têm impactos multianuais.
Quando tudo segue uma mesma tendência e é consistente, as coisas parecem estar no campo do sublime mas… “e se as vendas mudam?”, “e se os resultados mingam?”.
Imaginemos então uma determinada realidade.
O crescimento das vendas já não se verifica. Pode estagnar por alguns anos e até baixar.
Será fácil imaginar que o dinheiro da tesouraria para honrar compromissos começa a escassear. Com isso escasseiam as matérias-primas, atrasam-se salários, “faz-se 30 por uma linha” mas, infelizmente não há margem de manobra.
Não há margem de manobra porque essa empresa endividou-se anos e anos a fio e a redução de dívida não é uma opção imediata, uma opção ao alcance da gestão.
Portanto, a gestão comprometeu o futuro da empresa.
Tudo o que disse atrás é plausível de acontecer numa empresa mas, imaginemos agora que essa empresa é Portugal.
É verdade. A reflexão feita aplica-se a Portugal. Um país a endividar-se anualmente com a ilusória proteção do crescimento do PIB.
Imaginemos que o PIB pára de crescer ou que o país entra em recessão?
Puummm!!!! Outra vez: puummm!!!!