Este fenómeno da humanidade só vem mostrar que o homem, por mais inteligente e ambicioso que seja, tem de saber viver com a humildade de que nada controla.
Mas é difícil aceitar “que nada se controla”.
Tomando consciência disso mesmo com o aparecimento abrupto dos contágios, a humanidade amedrontou-se perante as circunstâncias, de tal ordem que quase deu cabo da própria riqueza.
É assim que muitas vezes sucede ao fugir-se por medo. Fugimos e batemos de frente com outro algo qualquer, causando danos ainda piores.
A humanidade, assustada com a morte, com o medo de morrer, com o medo de deixar os sistemas de saúde em pânico, com o medo de ficar doente, com a preocupação de não contagiar, com o medo de “não ser bom aluno”, decidiu “travar a vida” de uma maneira que foi como “atirar papeis para cima do fogo sem se aperceber que esses papéis eram notas de dinheiro”.
Foi o medo de ter medo!
Não em Portugal mas em termos globais.
Quase todos os países foram forçados a parar. Os dirigentes sentiram-se pressionados a parar. As pessoas tiveram medos e preferiram parar tudo.
Foi o pânico que não se vê.
E depois?
É que depois de parar vem o depois de ter parado. Mais difícil que parar é retomar.
Decidir parar não foi fácil, mas foi mais fácil que o depois de parar. O depois de parar traz o “como fazer” para colocar tudo a funcionar sendo que muita riqueza foi destruída.
De repente, pouco a pouco, as pessoas vão se apercebendo que o medo não serviu para nada porque estão a voltar a ter medo.
Porque tiveram medo à morte e à doença, fugiram desse medo, parando e confinando-se, para vir a confrontar-se com outro medo – o medo do dinheiro, da nova incerteza.
O medo de não ter dinheiro por não ter emprego. O medo de não ter dinheiro por não ter empresa. O medo de não ter dinheiro porque são muitos os que não têm dinheiro. O medo de não ter dinheiro porque o desemprego é enorme.
Do medo não se foge.
O medo, que muito medo mete, tem a sua utilidade – é apenas um alerta para o que sucede. E, perante esses alertas que o medo nos faz tomar consciência, vamos agindo com serenidade, prudência, sem pânico nem mudanças abruptas.
O Coronavírus veio mostrar que o homem é tendencialmente controlador. O Coronavírus veio mostrar que o homem, na sua postura mental e egoica, julga-se muito capaz ao ponto de querer reagir com firmeza, rapidez e determinação ao fenómeno inesperado dos contágios.
Na hora de tentar controlar o contágio, adotou uma radicalidade de medidas praticamente autodestrutivas.
Claro que não se vai autodestruir, felizmente, mas vai sofrer como não imaginava. Só porque a forma como lidou com o medo e com a subtileza do pânico, mostrou a si mesmo que se deteriorou e que mais medos criou.
Não haveria uma forma mais equilibrada de o fazer? Não haveria uma forma mais equilibrada de cuidar da saúde coletiva, de evitar contágios sem colocar em risco o equilíbrio da vida?
Provavelmente, sim.
Com solidariedade, desde logo, para ajudar quem precisa.
Com humildade logo no início para aceitar que há um problema e não entrar em negação.
Com a aceitação de medidas simples como a máscara, imediatamente, fosse ela qual fosse.
E mais outras pequenas coisas que fazem a diferença sem fazer diferenças radicais.
Tantas coisas paradas!!!
Que polémica com a máscara que afinal agora já deve ser usada.
Tantas notícias alarmistas a abrir os telejornais com número de mortes. Que sensacionalismo.
Horas e horas de informação a fomentar o medo dentro das pessoas.
Os mediafazem um trabalho excelente mas também “fazem render o peixe”. Isto do coronavírus vende. É mediático.
E assim se vai alimentando o medo interno.
Ao medo de morrer ou ficar doente, soma-se agora o medo do dinheiro e da instabilidade.
E tudo isto para que vejamos que perder o equilíbrio nunca, nunca é recomendável.
O medo só é um alerta. Não representa nada de que se deva fugir.
Devemos observar os medos da incerteza, da mudança, e agirmos com assertividade, mas com tolerância.
As coisas vêm e vão. Tudo muda. Tudo passa.
Chegou a hora da Coragem!
Chegou a hora de pegar na máscara, de ser disciplinado nos relacionamentos, de praticar as desinfeções contínuas, de fazer testes, de medir a temperatura corporal, de mudar hábitos e ir pela vida fora.
Chegou a hora de ter coragem de andar na rua e fazer a vida normal de agora que é diferente da vida normal de antes.
Chegou a hora de adotar uma nova normalidade.
Chegou a hora de fazer tudo o que é para fazer para colocar a economia sobre carris. Temos de ter a coragem de sair de casa e não empobrecer.
Já nos confinamos tempo demais.
Chegou a hora de não ter Medo de ter Coragem.
Só deveríamos lidar com o cuidado de perder o controlo do SNS, do atendimento aos mais vulneráveis (note-se que 85% dos infetados são acompanhados em casa). Esse deve ser o único alerta. A partir daí, não tenhamos medo de cultivar a nova normalidade, de buscar o equilíbrio económico. De ir trabalhar, produzir e vender, para que não fomentemos a pobreza.
Não tenhamos Medo de ter Coragem.
Por fim, uma consideração pessoal:
Este texto é uma opinião muito pessoal, criticável, claro, e partilho porque estivemos, ou estamos ainda, todos nas mesmas circunstâncias.
Esta reflexão resulta da minha intenção de aprender com o que sucedeu. Eu sou dos que tive medo. Eu sou dos que perdeu o medo. Eu tive-o e perdi-o. Constatei que o medo de perder, seja o que for, é ilusório porque o que temos não é nosso. Está connosco porque está. Assim como muita gente não tem tanto medo de perder nada porque pouco ou nada tem.
É uma reflexão sobre a importância de sentir o medo, tomar consciência dele, mas, simultaneamente adotar uma atitude de equilíbrio e estar equânime.
José Miguel Marques Mendes
Administrador