Para evoluirmos com a Pandemia que se instalou nas nossas vidas só precisamos de estar despertos. Despertar para o dia e despertos ao longo do dia. De olhos abertos mas a sentir a nova forma que a vida toma.
Para quem andar de olhos abertos mas simplesmente a tentar passar pelas dificuldades da máscara e limitações dos espaços públicos, está a perder um dos maiores fenómenos da humanidade.
Quem estiver apenas a lidar com os contágios, preocupado com a distância social ou simplesmente a ter medo de ficar doente, está a perder um grande momento sensitivo e de descoberta pessoal.
Desde que a Pandemia se instalou nas nossas vidas, nesta dimensão mundial, tenho procurado entender o que a “Mão de Deus” ou o “Poder do Universo” (como queiramos aceitar) nos está a querer transmitir.
De que estamos a ser sensibilizados? Que mensagem está a pairar sobre a humanidade?
Digo desta forma porque entendo que a vida que vamos construindo diariamente tem coisas certas e coisas menos certas mas tudo converge para um propósito. Podemos refletir mais ou menos sobre isto, não é um dever nem sequer uma obrigação do Homem, mas a cada dia que nos sentimos vivos sabemos que é mais um dia de incerteza.
A cada dia provamos a nós mesmos que não controlamos nada. As coisas surgem, vêm e vão, e nós apenas lidamos com elas.
Sejam questões tangíveis ou simplesmente pensamentos, o que nos ocorre, ocorre porque tinha de ocorrer face à atitude que estamos a adotar.
As coisas surgem do nada, assim como esta Pandemia que ninguém ousou prever.
E é por isso que tenho dedicado alguma da minha sensibilidade para reparar no que somos hoje face ao que eramos ontem.
Cruzamo-nos todos de máscara. Quem diria?
Só tínhamos visto isto em países longínquos e agora estamos todos de cara quase tapada, muitas vezes sem nos reconhecermos. Queremos perceber quem temos ao nosso redor. Estamos mais curiosos. Reparamos mais nos outros, quanto mais não seja, nas máscaras dos outros.
Que bem que estamos a lidar com a presença dos demais. Que boa sensação esta de sermos todos iguais por detrás de uma máscara.
Reparo que quando comunicamos olhamos mais nos olhos uns dos outros. Que bem.
Tantas eram as vezes que estávamos a conversar com alguém e os nossos olhos vagueavam de desconcentração, timidez ou desinteresse. Agora somos mais presentes. Estamos mais ali, no tema, na pessoa, no assunto, no momento.
E os olhos das pessoas são todos tão bonitos.
E reparo nos espaços que tínhamos e que agora ficam curtos. Eramos muitos em muito espaço e agora somos os mesmos para menos espaço. Temos de lidar pacificamente com filas, marcações prévias, espaços que fecham mais cedo, etc, etc. Somos mais tolerantes com as limitações quando antes tomávamos as coisas como adquiridas. Tomávamos as coisas como direitos adquiridos mesmo sendo espaços públicos, de todos e sem reservas. Agora aceitamos as limitações como uma “fatalidade do destino”.
E os nossos familiares idosos, com mais restrições que os demais, chegam ao ponto de ficar em lares sem visitas ou em situações de contingência, simplesmente confinados ao seu quarto.
Estes velhinhos, que em muitos casos mais parecem canseiras e estorvos, são o espelho do nosso futuro. São o que seremos e para os quais olhamos hoje como quem olha para o nosso próprio futuro. Há dias em que me vêm as lágrimas de emoção só por sentir que nada serei mas que hoje me julgo alguém.
Há quem lhe chame o “Vírus Chinês” mas nós sabemos que nem os chineses têm poder para uma sensibilização destas à escala mundial. A mensagem que nos está a atravessar tem apenas o Coronavírus como mensageiro pois, a razão porque tudo surge não está na China nem em nenhum país.
Continuemos a olhar para nós.
E o medo que paira sobre todos os egos?
O medo de se ficar doente, impotente, sem condições para fazer o quotidiano como antes. O medo de ficar doente e sofrer com a febre ou a falta de ar. O medo de morrer.
É isso. Hoje sentimos o medo de perder o que não temos nem nunca tivemos. O controlo. Nunca ninguém controlou nada na vida mas julga que sim. Agora que se perceciona o medo do incerto é que notamos que a vida é apenas isso – confiança. Há que confiar no que nos surge pela frente.
E para que o que nos surja pela frente seja o correto para nós, só devemos pôr-nos a jeito, que é o mesmo que “fazer o que é saudável e correto para nós”.
E o que é correto e saudável para nós?
É sermos corretos e saudáveis com quem está do outro lado da máscara. Com aquele que não vemos mas que é igual a nós.
É sermos corretos e saudáveis com o nosso próprio pensamento, sem negatividade nem autoflagelação.
É sermos corretos na atitude e no pensamento.
É fugir da negatividade, quer na ação quer no pensamento.
Há dias ouvia uma pessoa dizer a outra, num tom de quem estava feliz com a lucidez da constatação:
-“…as coisas que nós tínhamos e que nem sabíamos que tínhamos!”.
É isso.
Agora percebemos o quanto a nossa felicidade depende apenas de não pensarmos na vida e simplesmente olharmos para o que nos ocorre a cada dia.
Agora percebemos o quanto a nossa felicidade depende apenas de não pensarmos na vida e simplesmente olharmos para o que sentimos a cada momento.
Como anda meio mundo a carregar o seu passado de memórias, traumas e saudades, enquanto outro meio antecipa ansiedades, medos e ambições, a Pandemia veio sensibilizar-nos para o Presente, para o Momento, criando-nos confinamentos, limitações, restrições e outros obstáculos que mais não são do que formas de alerta para o que temos Hoje. Para o que temos em cada instante.
Não percamos o Momento Presente!
Vivamos o dia com a Coragem em não ter Medo do amanhã.
José Miguel Marques Mendes
Administrador