Portugal é um país com um povo fantástico. Esta crise que nos tem coberto os dias de trabalho tem servido para mostrar a força com que encaramos as adversidades. Creio que temos força mas também muita criatividade. Fazer as coisas de modo diferente para atingir novos objetivos tem‐se evidenciado como uma característica nossa.
Podemos não ser uma referência internacional em inovação e criatividade mas sabemos usar essas faculdades para seguir em frente. Tivemos que ser resgatados, tivemos que fazer enormes restrições na nossa vida financeira, tivemos que dizer Ámen com o Governo na perda de poder de compra e, 4 anos depois, cá estamos, vivos e recuperados mas, atenção, ainda não fortalecidos.

De facto, estamos recuperados mas ainda não somos económica e financeiramente fortes. Mesmo socialmente, ainda nos sentimos débeis e algo deprimidos. Nas ruas e nos nossos relacionamentos, somos frequentemente protagonistas de crispação.

De facto, muita coisa ainda pode correr mal. Quer no nosso país quer internacionalmente, há muita instabilidade que pode deitar tudo a perder. Não sou nem nunca fui um “profeta da desgraça”. Aliás, é‐me conhecido o espírito positivo com que desenho as perspetivas futuras, contudo, tenho de ser honesto com um sentimento que a cada passo toma conta das minhas reflexões.

Somos capazes de mudar imenso, somos capazes de fazer esforços brutais, temos uma capacidade de trabalho tremenda, somos solidários com os outros, somos um povo brando, efetivamente somos de brandos costumes. Creio que estas características são ao mesmo tempo a nossa fortuna e a nossa desgraça.
Receio que ao contentarmo‐nos com pouco possamos chegar a este nível de recuperação e achar que JÁ ESTÁ.

Quer nas empresas quer no país, quer no particular quer no geral, decidir com base na perceção de que JÁ ESTÁ e não na sua constatação, pode ser o princípio de uma nova fase ‐ a “morte na praia”.

De facto, a coisa que mais duvido no espírito de liderança dos gestores, empresários e políticos é a sua ambição.

José Miguel Marques Mendes
CEO